Prestes a iniciar a época olímpica 2023/2024, ainda é tempo para passar em revista os melhores momentos da natação portuguesa em 2022/2023, uma época de grande afirmação da natação portuguesa, não só no que diz respeito à natação pura, abrindo boas perspetivas para o que pode ser a campanha parisiense no próximo agosto.
1. Diogo Ribeiro de prata
O primeiro destaque é óbvio, a prata de Diogo Ribeiro nos 50 mariposa do mundiais de Fukuoka, o melhor resultado de sempre da natação portuguesa. Do pré-destinado do Benfica já se esperavam grandes feitos ao nível absoluto, mas contar aos 18 anos já com um bronze em campeonatos da Europa (ainda em idade de júnior) e uma prata em campeonatos do mundo reforça a certeza de estarmos perante um fora de série, não apenas da natação, mas do desporto português.
A um ano dos Jogos de Paris é inevitável alimentar a esperança que estamos perto de alcançar o nosso segundo diploma olímpico na natação, mas ao dia de hoje o que importa é deixar o Diogo crescer para que, de forma sustentada, nos volte a dar mais das alegrias que tem dado.
2. Angélica André à porta do pódio
A nadadora de águas abertas do FC Porto continua a deixar bem marcado o seu nome na história das águas abertas portuguesas. Depois da prata de Arseniy Lavrentyev nos 25km dos Europeus de 2012, Angélica alcançou a segunda medalha lusa em Europeus de Águas Abertas no ano passado, com o bronze nos 10 km. Este ano voltou a estar em grande nível na principal competição da temporada e por pouco não voltou a subir a um pódio, desta vez num mundial e desta vez na prova de 5 km. O 4º lugar ficou estabelecido como a melhor classificação portuguesa de sempre em mundiais durante 6 dias.
3. Gabriel Lopes campeão mundial universitário
Do Japão para a China, a aventura asiática de Gabriel Lopes foi em crescendo. À semelhança de Diogo e Angélica, Gabriel também vinha de uma época em que subiu ao pódio europeu. Foi terceiro nos 200 estilos no ano passado em Roma.
De Fukuoka trouxe a meia-final dos 200 estilos e outra classificação no top-16 enquanto integrante da estafeta 4x100 estilos, mas em Chengdu trouxe o metal mais precioso, sagrando-se campeão mundial universitário dos 200 metros estilos. Gabriel foi apenas o segundo nadador português a conquistar o ouro numa Universíada, seguindo-se a Alexandre Yokochi, 36 anos depois.
4. Camila Rebelo bi-vice
À semelhança do seu companheiro de equipa, também foi dos mundiais para as universíadas e, à semelhança do seu companheiro de equipa, também em Fukuoka tinha chegada a uma meia-final. Fora nos 200 metros costas, onde foi 15ª classificada com 2:12.47.
Na China, Camila esteve presente em três finais, mas, mais importante do que isso, chegou ao pódio por duas vezes, ambas à posição de prata.
Nos 100 costas estabeleceu um novo recorde nacional de 1:00.52 e nos 200 metros fez o terceiro melhor tempo da carreira em 2:10.47. Somando a estes resultados de fim de época o mínimo olímpico que estabeleceu em março, 2023 é um ano que fica na carreira de Camila Rebelo como a catapulta para a elite mundial.
5. Francisca Martins, dupla medalhada
Esta época também fica marcada pela estreia de uma nova competição, os europeus sub-23, que vêm responder a um “gap” evolutivo que tradicionalmente existe entre o escalão de juniores e as competições internacionais absolutas.
Para a nadadora de Felgueiras esse gap nem existe, uma vez que podia ter estado no mundial absoluto este ano, não tivesse feito as marcas já fora do período de qualificação, mas em boa hora Francisca foi estrear esta competição, trazendo de Dublin duas medalhas, a de prata nos 200 metros livres e a de bronze nos 400 metros livres.
Para a nadadora do FOCA, Paris ficou muito perto esta época. Está apenas à distância de 87 centésimos de segundo nos 400 metros.
6. Mariana Cunha, a primeira medalhada sub-23
Também em Dublin esteve a competir a nadadora do Colégio Efanor. A alinhar nas três distâncias de mariposa, chegou às finais em duas delas – 100 e 200 mariposa – e em ambas conseguiu recordes pessoais.
Em termos cronométricos destaca-se o seu primeiro sub-59 nos 100 mariposa ao marcar 58.87 e a posicionar-se agora a 11 centésimos do recorde nacional de Sara Oliveira. Mas maior destaque foi a sua classificação, trazendo para Portugal uma medalha de bronze nessa mesma prova.
Quanto a perspetivas olímpicas, 95 centésimos a retirar numa prova de 100 metros ainda é muito difícil, mas prova a prova vai deixando de ser uma miragem para Mariana.
7. Luísa Fragoeiro Arco, uma medalha de salto alto
Uma verdadeira lança em África foi o que representou a medalha de prata nos Europeus de Juniores na prova de plataforma. Ver Portugal competir numa competição de saltos para a água já é algo estranho, ver o nosso país no 7º lugar do medalheiro é algo absolutamente inacreditável.
A jovem de 15 anos vive e treina no Canadá há mais de 10 anos e, por isso, esta medalha não é resultado de qualquer desenvolvimento da disciplina nos últimos anos em Portugal, mas pode e deve servir de incentivo para que possam ser dados os primeiros passos…ou os primeiros saltos.
8. Da revelação à afirmação
Para quem acompanha a natação mais de perto, o nome Rafael Mimoso não é estranho. Pelo menos desde a época passada quando começou a inscrever o seu nome na tabela de recordistas nacionais.
Mas se havia quem não conhecesse o nadador do Benfica, esta época ficou devidamente apresentado. É um enorme talento numa especialidade com muita tradição em Portugal, mas que há anos não tem uma referência incontornável: os 200 metros bruços.
O nadador juvenil não só conseguiu apurar-se para os europeus de juniores, como chegou à final dos 200 metros bruços, sendo 6º classificado com 2:17.92.
Mas 15 dias depois, em Maribor, no Festival Olímpico da Juventude Europeia, teve um ponto ainda mais alto da sua temporada ao vencer os 200 metros bruços, com 2:15.98. Na próxima época entra no seu primeiro ano de júnior e deveremos assistir a mais uma etapa de consolidação de uma carreira que promete muito.
9. Cheila Vieira e Maria Beatriz Gonçalves
Por falar em etapas de consolidação, o dueto da natação artística mais famoso de Portugal não tem tido nenhuma época de estagnação.
Cheila e Maria Beatriz estão cada vez mais integradas na elite internacional e não há uma época que não terminem com um recorde ou uma efeméride.
2023 não foi diferente e as nadadoras da Gesloures chegaram mais alto do que nunca: à final de um campeonato do mundo, onde foram 11ªs classificadas no dueto técnico com 208,46 pontos.
O passo seguinte já todos sabemos qual é e, apesar do intricando sistema de apuramento olímpico, não é de todo impossível.
10. Os novos olímpicos
À terceira foi de vez para Miguel Nascimento. Depois de ter praticamente garantido o apuramento para o Rio e de ter ficado às portas de Tóquio, desta vez o nadador do Benfica não teve sequer de sofrer até à última. Garantiu o apuramento logo na primeira oportunidade, tendo a garantia de se estrear nuns Jogos Olímpicos aos 29 anos (pelo menos) nos 50 metros livres.
João Costa teve de esperar mais um pouco, mas não muito mais. Na principal competição do ano, os mundiais, o nadador do Vitória SC nadou os 100 costas para novo recorde nacional de 53.71, garantindo a passagem para Paris.
Feita a revisão da época 2022/2023, onde não coube muitos outros pontos altos para a natação portuguesa como os dois recordes do mundo da natação adaptada de Marco Meneses, medalhado de prata nos mundiais paraswimming de Manchester, assim como Diogo Cancela. Ou o facto de Portugal ter terminado os Europeus DSISO no terceiro lugar do medalheiro.
2023 foi um ano positivo para a natação portuguesa. Facilmente comprovado como o melhor de sempre. Mas esperamos que por pouco tempo. 2024 está aí e Paris poderá ser uma cidade talismã para afirmação da natação portuguesa, nas suas diversas disciplinas.
* Texto originalmente publicado no site da Federação Portuguesa de Natação
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